Assim não me esqueço de nada... penso...

Casos Verídicos


Smart Drugs
Um Testemunho Real

Lê o testemunho real que se segue. Um jovem e brilhante estudante de Eng. Mecânica conta-nos a sua experiência com os estimulantes cerebrais. Podes ficar surpreendido!
(O nome utilizado é fictício visto ser a única forma de garantir que a sua identidade não é revelada. Todos os factos relatados são reais.)


O meu nome é Tiago. Tenho 22 anos de idade.
Aos 18 anos, quando ingressei na Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade do Porto (FEUP), deparei-me com um mundo completamente novo. Senti que um universo, completamente desconhecido, se tinha aberto para mim. Como os meus pais sempre foram excessivamente controladores, pensei que usar e abusar do álcool e noitadas seria uma excelente forma de declarar a minha emancipação. Passei os dois primeiros meses completamente alheio ao meu real objectivo – tornar-me um engenheiro de sucesso o mais rapidamente possível.
Quando me apercebi da quantidade de tempo que havia perdido, reflexo das minhas atitudes imaturas, já as primeiras frequências se aproximavam. Estudei. Estudei horas e dias a fio. Na primeira frequência tive um 10.1. “Nota miserável” pensei para mim. Afinal eu era o “Tiago - um dos melhores alunos do Secundário da cidade”. Sempre fora extremamente ambicioso e a minha média de Secundário era próxima dos 18 valores. Não me contentava com um banal e mísero 10. A esta frequência seguiram-se outras tantas e os resultados não melhoraram. Cheguei até a reprovar numa delas.
Não encontrava explicação para tal… Vivia, naquele momento, de modo exemplar, longe da euforia inicial da qual fui vítima. Não bebia, não frequentava discotecas, raramente atendia a festas e, as noitadas que fazia, eram para estudar. Houve até quem me chegasse a apelidar de “O Homem das Cavernas” devido à minha ausência constante em todos os eventos sociais.  
Um dia, enquanto desfrutava do meu almoço que precedia mais uma maratona em frente aos livros, ouvi uma conversa entre três colegas. Falavam, em tom de segredo, de “drogas para a inteligência”. Um dos indivíduos dizia que desde que as tomava a sua memória parecia ter triplicado. Fiquei de tal modo fascinado com a possibilidade de existirem pequenas cápsulas mágicas que me intrometi na conversa. Pelas suas expressões aposto que me devem ter considerado metediço e inoportuno, mas o que pensavam era-me indiferente na altura em que julgava ter encontrado a solução para todos os meus problemas. Antes de começarem a responder a todas as minhas perguntas, tive de lhes garantir que não comentaria com ninguém que aquela conversa havia existido. Afinal, estavam, naquela mesa, dois dos melhores alunos da FEUP e a sua reputação de “inteligentes” ficaria abalada se alguém soubesse que recorriam a “auxiliares”. Referi a minha vontade de experimentar. Um dos jovens disse que me arranjaria um fármaco ideal para a concentração e memória que era, inclusivamente, utilizado em casos de doentes de Alzhmeir. Tive de lhe adiantar 25 euros. Marcámos encontro num café local para daí a 3 dias.
Passados três dias chegou a hora do encontro. Rapidamente me entregou o fármaco. Como aparecera tão descontraído como se estivesse entregar um pacote de pastilhas elásticas a um miúdo de 5 anos, nem me apercebi que o consumo de tal medicamento era ilegal. Disse-me que tomasse um por dia, “nada mais por enquanto”. “Podes aumentar a dose posteriormente mas nem deve ser necessário”, acrescentou. Paguei-lhe um café e partimos.
Tomei a minha primeira dose nesse mesmo dia. Ao fim de 4 dias comecei, finalmente, a sentir os efeitos. Achava-me repleto de energia. Cansaço era algo que já não constava do meu vocabulário. Fascinado com o resultado, decidi aumentar a dose para 2 comprimidos por dia. Sentia-me, então, ao rubro, como se acabasse de tomar 10 chávenas de café de uma golada! Senti que a minha capacidade de concentração melhorava de dia para dia e memorizava com muita maior facilidade. Estava maravilhado!
Entrei em época de exames e, sim, as minhas notas subiram consideravelmente. A melhoria rondava os três valores. Mantive-me assim, energético e radiante, durante meses. Estudava metade do tempo a que estava habituado e conseguia muito melhores resultados. Comecei até a sair.
Mais tarde, ouvi falar em “speed”, uma droga. Pensei para mim que “ninguém me poderia recriminar por me drogar para estudar”. Afinal era “por uma boa causa”. Comecei a consumir. Apenas recorria a ela em alturas críticas uma vez que, de facto, me conferia um “speed” incrível. Conseguia, assim, passar dias sem dormir e manter a qualidade do meu estudo ou dos meus trabalhos.
Mas, obviamente, não seria sempre tudo um mar de rosas. Surgiram os primeiros enjoos, vómitos e mal-estares. Decidi ignorar tais efeitos indesejáveis. Eram “suportáveis”, dizia para mim. Foi também por esta altura que me apercebi de que tinha emagrecido bastante. Pesei-me: em 4 meses havia emagrecido 9 quilos. Já toda a família comentava o meu aspecto meio debilitado. Tentei “fazer orelhas moucas” aos comentários. Na realidade, não me queria consciencializar de que os meus “comprimidos mágicos” podiam ter efeitos negativos. Mas estes não ficaram por aqui. As dores de cabeça passaram a ser uma constante, sentia-me irritado a toda a hora e surgiram até surtos de violência. Estes deram lugar a ataques de pânico e alucinações. Sentia-me completamente perdido. As altas doses de estimulante que tomava pareciam já não ter qualquer efeito mas, caso não consumisse qualquer cápsula, sentia tremores e suores horríveis, sentindo-me incapaz até de me movimentar ou abrir os olhos. A minha namorada, única pessoa ao corrente da situação, fez-me um ultimato. Eu cedi e fui internado numa clínica de reabilitação. Nesta altura já o meu caso era conhecido por todos na universidade e os meus familiares consideravam-me “um drogado”. Como poderia ter atingido aquele estado lastimoso? Eu, Tiago, que fora outrora um orgulho para os meus pais e admirado por colegas, estava internado. Era um “toxicodependente”.
Passadas duas semanas regressei a casa. Todos me receberam com uma palavra de ânimo e carinho, mas era evidente a decepção na face de minha mãe.
Felizmente, não tive recaídas e estou “limpo” há 3 anos. No entanto, toda esta experiência causou mazelas. As consequências deste meu acto de irresponsabilidade ainda hoje me perseguem: tenho ainda disciplinas do meu primeiro ano de faculdade para terminar pelo que apenas daqui a um par de anos concluirei o curso que ambicionava já ter concluído; a minha capacidade de memorização diminuiu substancialmente e tenho imensa dificuldade em memorizar coisas banais como nomes ou datas de aniversário; e, para além disso, tenho, frequentemente, ataques psicóticos com os quais começo a aprender a lidar.
Após ter relatado a minha história, sinto-me desiludido comigo mesmo por ter efectuado escolhas tão pouco correctas, tão pouco sãs. Espero que este meu testemunho sirva como uma lição para todos aqueles que se sentem incapazes obter bons resultados por si sós, para todos aqueles que duvidam das suas capacidades e aptidões e acreditam que, para serem bem sucedidos, precisam de aderir ao “comprimido mágico”.
Mantenham a vossa saúde mental. Sejam fiéis a vocês mesmos. Pois, para mim, é tarde demais…


 

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